Sempre o rio, sempre o sertão.A oração em forma de poema
Lição do Remeiro (Nilo Coelho)
“Nas memórias do tempo,
“Nas memórias do tempo,
de todas as memórias da infância,
a que me é mais grata
é a do meu rio,
o São Francisco,
a transbordar e desbordar as águas barrentas
pra deixar nas vazantes
a terra enriquecida para os ribeirinhos.
A moldura sentimental e telúrica
que não é apenas evocativa
pois jamais disse adeus a minha terra
se completa com a visão
das barcas a vela
subindo a correnteza e vencendo a calmaria
com a força dos peitos rijos dos remeiros.
São os remeiros dos peitos sangrentos
São os remeiros dos peitos sangrentos
remeiros sofridos
calejados na adversidade
o ânimo forte
e a alma em festa
nas canções que acompanham
o impulso dos remos
e nos gritos de desafio à passagem dos vapores.
O menino beiradeiro,
que chega às alturas da direção de um grande Estado
e de um povo,
tem a sua frente o mesmo quadro.
Se os bons ventos nos faltarem
estarei na proa
para acertar a cadência das remadas.
Remando ou varejando
não importa sangre o peito:
saberemos lutar.
A luta dos remeiros,
A luta dos remeiros,
como a nossa,
é o embate
dos que não perderam a fé
dos que têm esperança
dos que firmam os pés molhados nas coxias
de olhos voltados sempre para a frente.
O peito rijo que se abre em calos
se enrijece na certezade
que a união nos fará fortes
no vislumbre de novos horizontes
que juntos buscaremos.
Rio acima
contra a correnteza
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