segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Sertão do São Francisco vira polo turístico

                                  
Foto: Bodódromo de Petrolina. Sete empresas produtoras
de vinho estão instaladas na região.

O Sertão nordestino é conhecido pela aridez, pelo sol, pela caatinga. Mas a região de Pernambuco por onde o Rio São Francisco passa, na divisa com a Bahia, é praticamente um oásis nesse cenário. Mais do que pela secura, a cidade de Petrolina e algumas vizinhas próximas, a cerca de 700 km do Recife, se destacam pela riqueza de seus sabores, seja das frutas para exportação, das comidas típicas ou dos vinhos, que vêm ganhando cada vez mais espaço nos últimos anos.

Com sete vinícolas na região do Vale do São Francisco, consolidou-se a Rota do Vinho, passeio turístico onde os visitantes podem conhecer os vinhos tropicais, que possuem um sabor especial, segundo seus produtores. Uma das paradas da rota é a vitivinícola Santa Maria, onde são fabricados os vinhos Rio Sol, em Lagoa Grande, a 40 minutos de Petrolina. Pelo caminho, a chamada Estrada de Vermelho (indo pela BR-428 e pegando a PE-574), barris da empresa indicam o caminho para a fazenda, onde o empresário português João Santos, responsável pela vinícola, recebe todo mundo pessoalmente.

O clima é familiar. No mesmo lugar em que o empresário atende clientes, três de seus quatro filhos brincam. "Filho, cachorro, o lugar é bem família mesmo. Essa é uma das nossas diferenças", explica Santos. A casa da fazenda fica a poucos metros do São Francisco, o rio que torna possível a existência dos parreirais. "Diziam que era loucura produzir vinho no Alentejo, em Portugal. Hoje, de cada dois vinhos vendidos lá, um é do Alentejo", compara.
A propriedade tem 200 hectares de vinhas plantadas, convivendo lado a lado com a caatinga, coqueirais e mangueiras. As árvores tropicais são mantidas para compor o clima da fazenda. "Nós temos um vinho diferente, um vinho tropical. E não existe enoturismo sem um bom vinho. As pessoas querem conhecer onde é produzido aquele vinho que provaram", acredita.

Durante o passeio, os visitantes acompanham as ‘quatro estações da uva' - o clima tropical viabiliza as diferentes fases da produção no mesmo lugar, desde o florescimento, onde se vê o começo dos cachos se formando, até provar as uvas que vão originar o vinho. "As uvas para vinho são sempre pequeninas assim", explica Santos, ao mostrar as frutas amadurecendo. "Para você saber se estão maduras, basta abrir e olhar o caroço, ele tem de estar bem marrom", diz, acrescentando que o líquido é bem claro e é a casca que dá cor ao vinho.

Além de Santos, um casal de enólogos que mora na pequena vila da fazenda também guia as visitas, que custam R$ 10 e precisam ser agendadas por telefone. A vinícola conta com diferentes tipos de castas ('espécies'), a exemplo de Cabernet Sauvignon, Syrah e Alicante Bouschet. "Cada uma é um vinho diferente", lembra Santos. Para ele, há grandes vantagens de se produzir no São Francisco. "Aqui não vem uma chuva para apodrecer as uvas. Temos uma produção de qualidade constante. Não é como alguns vinhos, em que você precisa saber o ano da safra".

Mais do que aprender as diferenças entre as uvas, na visita também se veem as diferentes formas de cultivar a fruta. As latadas, fios de arame que parecem varais e por onde as parreiras sobem, são um bom modo de plantar uvas brancas. Para fazendas mecanizadas, a espaldeira, formada por sete fios de arame como uma cerca, é o ideal para a retirada das uvas. "Buscamos fazer a gestão de água, de qualidade das plantas, de recursos humanos, e ter a melhor forma de plantio", conta o professor Rogério de Castro, da Universidade de Lisboa.

Castro é um dos responsáveis pela pesquisa dos tipos de uva mais adequados, desde o começo da Rio Sol, há oito anos. "Amigos meus de todo o mundo se surpreendem com esse espaço", relembra. "Empresas de vinho não são empresas comuns. Elas precisam de mais investimento e de pelo menos 10 anos para se equilibrar", explica Santos.

Depois dos parreirais, o passeio segue pela fábrica. Os reservatórios feitos em aço inoxidável têm de ser refrigerados, devido ao calor da região, e o formato varia de acordo com a bebida. Enquanto os de vinho têm o topo e o fundo retos, os de espumante precisam ser arredondados para aguentar a pressão, uma vez que o gás liberado faz parte - e também dá a fama - da bebida e tem de ser mantido dentro do tanque. O envelhecimento dos vinhos acontece em barris vindos da França, em uma sala onde a luz é quase inexistente, para a bebida poder realmente ‘descansar'.

A visita termina com a degustação. Em dias de grandes visitas, é sob a mangueira nos fundos da loja que os visitantes saboreiam as bebidas, no melhor clima tropical. "Nós tentamos fazer as coisas diferentes por aqui. A caatinga é maravilhosa, tem um forró maravilhoso e as pessoas são ótimas", conta João, que veio com a família para o Brasil há oito anos e se apaixonou pelo lugar.
(Fonte: Midia News)

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Imagens do Rio São Francisco